quinta-feira, 8 de maio de 2008

Hoje eu mesmo vou comprar as flores



Quando iniciamos a confecção deste blog, a idéia era criarmos ao menos uma resenha cinematográfica ou televisiva por semana, mas com o passar de pouquíssimos dias, novas propostas de emprego surgiram para os idealizadores de "bauru sem tomate", e o endereço passou a 2º, 3º, 4º, 5º... plano, ou seja, está sendo difícil conciliarmos nossas obrigações profissionais com a elaboração dos textos a serem postados neste espaço.
Falo isto, não como pesar do trabalho nas costas, ou como desculpa para o ainda raso número de leitores de nossas críticas. Mas digo isso feliz. Feliz por não ser mais um Ms. Dalloway. Feliz por não ser mais uma Virginia Woolf, ou uma Laura Brown, ou uma Clarice Vaughan. Feliz por viver.

Ficha técnica:

Direção: Stephen Daldry

Roteiro: David Hare

Elenco: Nicole Kidman, Julianne Moore, Meryl Streep, John C. Reilly, Ed Harris, Toni Collette

Edição: Peter Boyle

Direção de Fotografia: Seamus McGarvey


Este é o principal ponto de partida em que Michael Cunnigham se inspira para elaborar o romance homônimo que deu origem ao excepcional "As Horas"
Na década de 20, a escritora britânica Virginia Woolf (Kidman irreconhecível), moradora dos arredores de Londres, vive o exemplo de uma vida bucólica: casada com um homem que leva até o café-da-manhã na bandeja ao quarto da esposa quando acorda, conta com um time de serventes que lhe compra até o gengibre para temperar a comida das visitas. Visitas que aliás são a única válvula de escape da romancista, que, ao vê-las como última conexão com a vida agitada (lê-se saboreada), cria uma espécie de apego especial com a convidada.
Em Los Angeles, Laura Brown (Moore), casada com um veterano da 2ª Guerra Mundial, não consegue ver um sentido na própria existência. Grávida e com um filho de 7 anos, ela nem ao menos tem a capacidade de preparar um bolo para o aniversário do marido, se mostrando uma dona-de-casa incapaz, em uma época onde o american way of life é levado ao extremo. Coincidentemente, ela vê na vizinha(Collette) com câncer, uma inspiração de mulher que realmente vive.
Na Nova Yorke atual, a editora, e anfitriã de uma festa em homenagem a um escritor aidético, Clarice Vaughan (Streep), com uma espécie de carapuça forte e independente, tenta afogar suas inseguranças em festas comemorativas que na realidade não representam nada.
A trilha sonora de Philip Glass, que ao contrário dos arranjos de "O Ilusionista", onde a trilha do compositor chega a ser exagerada, aliada à ótima fotografia, se mostra de extrema eficiência em nos apresentar o universo melancólico em que vivem as protagonistas. Além disso, outra qualidade técnica que o longa possui, é a ótima montagem de Peter Boyle, que consegue transpor a mudança de gerações de maneira bela e eficiente.
Um filme para todos, mas que com certeza será muito mais bem compreendido por aqueles que já passaram por uma época de depressão na vida.


"Eu luto sozinha contra a escuridão, na mais profunda escuridão, e só eu sei o que isso significa. Só eu posso entender minha condição. Você vive sob a ameaça de minha extinção. Eu também vivo sob esta ameaça". Virginia Woolf