quinta-feira, 24 de julho de 2008

Metáforas toscas.

(primeiramente, peço desculpas pela falta de empenho com o bauru sem tomate).

Certa vez, neste mesmo blog, comentei sobre algo que me incomoda. Os tais formatos, programas e séries estrangeiros que lotam as grades de programação (da TV aberta).

Não nego, e reitero que isso me incomoda, pois sei que com um pouco mais de empenho e incentivo pode-se fazer algo melhor do que o oferecido por essas lasanhas de microondas.

Na tv brasileira vê-se os dois lados: o da produção nacional e o do enlatado. Exemplifica-se: Grande Família e Big Brother.

O primeiro (que já foi melhor) prova que o Brasil tem capacidade de montar uma decente sitcom que diga algo a mais, que fale de brasileiros para brasileiros.

O segundo gera repugnância, desapego às coisas boas da vida. Simplesmente um lixo. Um enlatado que perdeu seu prazo de validade há uns sete anos, ainda quando a idéia era inovadora e interessante. Passou do tempo de parar, mas o formato insiste em insistir. E a resposta para tal é que o produto ainda vende (e muito).

Imagine-se dono de um mercadinho, e que tenha nas suas prateleiras itens velhos, vencidos. Digamos que ninguém tenha percebido que esses produtos estejam estragados, e que os mesmos continuam a vender normalmente. Economiza-se ao não comprar novos produtos, e lucra-se com algo que não se esperava lucrar mais. Perfeito. Tosca e metaforicamente, a Globo é a dona do mercadinho.

Mas paro agora com as reclamações. Minha intenção é elogiar um formato comprado que deu certo, e muito.

CQC.

Ótima idéia original da Argentina, já foi vendida para dezenas de países, e há uns quatro meses também para o Brasil (leia-se Band).

Marcelo Tas, Professor Tibúrcio e Ernesto Varela, é o ancora, com credibilidade (algo raro hoje em dia), da atração, que é um misto de jornalismo com humorístico. O restante do elenco (mais seis homens) veio dos palcos de stand-up comedy espalhados pelo país. Com seus trabalhos divulgados pela internet, ganharam fama e entraram na TV.

Os números do Ibope só afirmam ainda mais que a atração deu certo. O maior índice de audiência da Band é com o jornalístico Brasil Urgente, apresentado por Datena. Exibido as 18.00, diariamente, tem pico de oito pontos, com média de seis. Pois bem, há quatro meses no ar, CQC já bate seis de pico, não para de crescer e de aumentar seu leque de patrocinadores, o que demonstra o prestigio que vem criando com o público e conseqüentemente com o mercado publicitário. É um índice elevado para os padrões da emissora do Morumbi.

Mantenho minha opinião inicial escrita neste texto. Acho que há talento e capacidade para se fazer algo nacional de qualidade. Mas tendo a concordar que de vez em quando uma lasanha de microondas não faz mal a ninguém, mas tem que ser de qualidade.

Metafórica e toscamente, assista algo bom.

domingo, 20 de julho de 2008

Batman - O Cavaleiro das Trevas



Esqueça de tudo que já viu e já assistiu sobre Batman. Esqueça as tramas lineares, os personagens caricatos. Esqueça até mesmo Batman Begins. O que Christopher Nolan nos apresenta aqui não é somente uma história cheia de reviravoltas onde em cada cena nos é mostrada uma nova surpresa. Mas sim um retrato da sociedade em que estamos inseridos, na qual não é impossível imaginarmos um herói fantasiado de morcego combatendo os Coringas da vida real.

E por incrível que pareça (exceto pela parte da fantasia de morcego), isso não é exagero. Se desde que Nolan passou a comandar a franquia via-se muito mais realismo impresso na película, agora então, é possível identificarmos Rio de Janeiro, São Paulo, Recife disfarçados de Gotham City. E para tal, o diretor nos poupa brilhantemente de efeitos gráficos de computação e investe massivamente nos efeitos mecânicos, tornando as seqüências de ação muito mais palpáveis.


E não é só pela técnica que a história encontra ecos na vida real. Christopher Nolan e seu irmão Jonathan elaboram o roteiro de modo que a desenvoltura de seus personagens soam da maneira mais plausível possível. Se ao mesmo tempo que encontramos uma Rachel crédula no bem indestrutível, ou um Harvey Dent defensor da moral maior (herói que Bruce Wayne sonha em ser, e cujo arco dramático se mostrará de grande importância para o desfecho da história), encontramos um Coringa anárquico e niilista de cujas aparições na telona se mostram cada vez mais surpreendentes.


O Coringa, aliás, é um dos grandes alicerces do filme. Interpretado com alma pelo falecido Heath Ledger, o roteiro lhe confere (falta de)dignidade e (a)moral transformando a criação de Tim Burton e Jack Nicholson (no Batman de 1989) de um simples palhaço unidimensional em busca de diversão a um lunático que ao mesmo tempo que ansiamos pela sua aparição em cena, tememos-la terrivelmente. Com uma interpretação passível de prêmio, Ledger incorpora maneirismos (olhar, respiração, movimentos de língua, andar) ao personagem, que lhe imprimem um sarcasmo maquiavélico; e uma mudança de timbre da voz, que oscila de falcetes cômicos a berros raivosos, dignos de importar o Joker ao hall dos maiores vilões do cinema.





Se alguém ainda duvida do potencial de Christopher Nolan em se tornar, ao lado de Paul Thomas Anderson e Darren Aronofsky, uma das maiores promessas do cinema do século XXI, após "O Cavaleiro das Trevas" não nos resta dúvidas de que a atual obra-prima da carreira do diretor irá impulsioná-lo ao Olimpo do qual fazem parte Martin Scorcese e Clint Eastwood e já participaram Kubrick e Bergman. Pois não é qualquer um que tem a capacidade de transformar uma simples adaptção de HQ em uma trama surpreendente e bem articulada de proporções épicas.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Wall-E



Ao lembrar de grandes obras-primas da animação, logo nos vêm à mente as imagens de Toy Story, Monstros S.A., Procurando Nemo, ou, mais recentemente, Ratatouille. Ou seja, impossível não se referir à Pixar, como uma das maiores criadoras do gênero de todos os tempos. Porém, pensar que ela se superaria e às suas criações, seria quase impossível, tendo em vista a qualidade técnica (e por que não crítica) das obras já citadas.Contudo, ao criar um dos personagens da sétima arte mais carismáticos de todos os tempos (uma espécie de Carlitos do espaço) que consegue nos emocionar com um simples gesto manual, a empresa nos demonstra novamente o quão genial seus realizadores são.


Tendo como premissa um robô encarregado de limpar o lixo que tornou a Terra inabitável, o longa se desenrola de maneira mais genial do que se prenuncia, criando situações que o fazem se distanciar do gênero "animação" e se aproximar do "ficção científica". Solitário, Wall-E tem como única companheira uma "barata de estimação" que já nos demonstra o caráter humano que o personagem tem. Colecionador de peças que julga não serem passíveis de descartadas, o robô se mostra de uma pureza contagiante ao guardar os objetos mais prosaicos, como um sutiã ou um isqueiro (cujo brilho ao ser aceso lhe fascina) ; o que novamente nos remete à imagem de uma alma humana encarcerada dentro de um monte de metal. Porém engana-se quem acha que o carisma de Wall-E resume-se a isso: além de grande admirador da música “Put On Your Sunday Clothes” do musical "Alô, Dolly", ele demonstra grande admiração pelo toque humano ao repetidamente assistir a uma cena do musical na qual o personagem de Michael Crawford segura a mão de Dolly Levi em uma de suas danças.


Após 700 anos de trabalho, Wall-E é pego de surpresa pela modernosa robô EVA, que veio à Terra com a missão de procurar por vida, e vê aí a oportunidade de contato que tanto sonhou ao ter assitido ao musical de Gene Kelly. Levado ao espaço por decorrência da nova amiga, o robozinho descobre uma sociedade de pessoas onde o consumismo os fizeram tornar-se menos humanos e onde o toque (tão prezado pelo robô ) se tornou nada corriqueiro, conferindo ao longa um toque crítico mais genial do que o apresentado em Ratatouille ou em outros longas da Pixar.


A animação a ser batida nas premiações e que possivelmente pode quebrar a seca de animações a fazer parte dos 5 maiores indicados ao Oscar.